quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Era uma vez...


O Leão do lago

Contam que um Leão sedento, depois de muito andar pelas montanhas, encontrou um lago de águas espelhadas. Chegou à sua margem e não perdeu tempo, pensou logo em aliviar sua sede, mas quando estava prestes a beber aquela água bem fresquinha, viu o reflexo do seu rosto no espelho d’água e levou um tremendo susto que o fez dar um salto para trás. O Leão pensou: “Não pode ser! Este lago já tem um dono. Pertence àquele Leão que está na água. Se eu quiser matar minha sede vou ter que tomar muito cuidado com ele.”
O Leão se afastou por um tempo sentindo um medo enorme, e sua sede agora era ainda maior. Ele resolveu então se aproximar do lago aos poucos, com cautela, na esperança de que aquele outro leão tivesse ido embora, mas quando chegou o rosto bem perto da água, viu mais uma vez o “Leão do Lago” e fugiu.
Desta vez o Leão se escondeu numa pequena gruta que havia na beira da montanha. Refletiu por um tempo e pensou que realmente tinha que tomar o máximo cuidado com o seu oponente.
Naquele dia quente o sol ardia sem piedade, o ar estava tão seco que tinha até desistido de ventar, as plantas secas não guardavam nem mesmo uma gota de seiva em suas folhas. A sua sede aumentava cada vez mais e ele sabia quanto tempo tinha levado para encontrar aquele lago que era a única fonte de água existente naquelas montanhas.
E o Leão, em suas reflexões, teve uma idéia. Decidiu dar a volta no lago aproximando-se pela margem oposta. Caminhou silenciosamente pela encosta dos montes, em sigilo, com cuidado para não atrair a atenção do “Leão do Lago”, e se aproximou lentamente, mas quando foi beber água, lá estava o outro leão.

Desta vez o Leão sedento mostrou seus dentes enormes de maneira ameaçadora e deu um bravo rugido, mas vendo que o “Leão do Lago” fez, naquele mesmo instante, o mesmo gesto feroz, sentiu muito medo e saiu correndo.
A sede era cada vez maior, a sensação de perceber sua boca seca à beira de um lago espelhado o afligia mais e mais. O Leão insistiu várias vezes, sempre em locais diferentes, mas sempre que via nas águas o “Leão do Lago”, fugia amedrontado.
Por fim tomou a firme decisão de encarar o seu oponente, enfrentar o seu medo e beber a água daquele lago, mesmo que isso lhe custasse muito.
Num salto preciso alcançou mais uma vez a margem, olhou por instantes nos olhos do “Leão do Lago” e, muito decidido, mergulhou a cabeça naquelas águas, fazendo com que o “Leão do Lago” desaparecesse para sempre.
Conto popular tibetano. Fonte: MORAES, F. O. - O Leão do Lago; in: Bodisatva: Revista de pensamento budista, edição 16, Viamão-RS: jan 2008.

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