quinta-feira, 12 de agosto de 2010

ARTE EM CONEXÃO

Tela: "Arcos musicais"
Pintora: Sueli do Nascimento
"Alheio"
Compositor: Clodoaldo Santos

CASAL DE PÁSSAROS

Pintura de Sueli do Nascimento

" Como quem acolhe um ser divino,  unimos-nos pela aliança do amor..."
C & S

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Legalenga e outros poemas...

" Noite estrelada,

dois pares de olhos

refletem o céu...

enquanto no jardim,

nossas mãos

tornam-se uma. "


Sueli do Nascimento

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Era uma vez...


O Pequeno Príncipe

Antoine de Saint-Exupéry



(...) "E foi então que apareceu a raposa:

- Bom dia - disse a raposa.

- Bom dia - respondeu polidamente o principezinho que se voltou, mas não viu nada.

- Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...

- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - Tu és bem bonita.

- Sou uma raposa - disse a raposa.

- Vem brincar comigo - propôs o príncipe - Estou tão triste...

- Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativara ainda.

- Ah, desculpa! - disse o principezinho, após uma reflexão, acrescentou:

- O que quer dizer "cativar"?

- Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras?

- Procuro amigos - disse. - Que quer dizer cativar?

- É uma coisa muito esquecida - disse a raposa. - Significa "criar laços"...

- Criar laços?

- Exatamente. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...

Mas a raposa voltou a sua idéia:

- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música. E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste, mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...

A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:

- Por favor, cativa-me! - disse ela.

- Bem quisera - disse o príncipe - mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou - disse a raposa. - Os homens não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!

- Os homens esqueceram a verdade - disse a raposa. - Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. "

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Hai Kai


Desfaço-me no grão de areia,
Bem leve, leve brisa
A esperança jasmim

Sueli do Nascimento

Era uma vez... Dom Quixote!


Trecho do livro O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes Saavedra - Páginas 117 a 120
Do bom sucesso que o valoroso D. Quixote teve na espantosa e jamais imaginada aventura dos moinhos de vento, mais outros sucessos dignos de feliz lembrança.

Nisto, avistaram trinta ou quarenta moinhos de vento dos que há naqueles campos, e assim como D. Quixote os viu, disse ao seu escudeiro: - A ventura vai guiando as nossas coisas melhor do que pudéramos desejar; pois vê lá, amigo Sancho Pança, aqueles trinta ou pouco mais desaforados gigantes, com os quais penso travar batalha e tirar de todos a vida, com cujos despojos começaremos a enriquecer, pois esta é boa guerra, e é grande serviço de Deus varrer tão má semente da face da terra. - Que gigantes? - disse Sancho Pança. - Aqueles que ali vês - respondeu seu amo -, de longos braços, que alguns chegam a tê-los de quase duas léguas. - Veja vossa mercê - respondeu Sancho - que aqueles que ali aparecem não são gigantes, e sim moinhos de vento, e o que neles parecem braços são as asas, que, empurradas pelo vento, fazem rodar a pedra do moinho. - Logo se vê - respondeu D. Quixote - que não és versado em coisas de aventuras: são gigantes, sim; e se tens medo aparta-te daqui, e põe-te a rezar no espaço em que vou com eles me bater em fera e desigual batalha. E, isto dizendo, deu de esporas em seu cavalo Rocinante, sem atentar às vozes que o seu escudeiro Sancho lhe dava, advertindo-lhe que sem dúvida alguma eram moinhos de vento, e não gigantes, aqueles que ia acometer. Mas ele ia tão certo de que eram gigantes, que nem ouvia as vozes do seu escudeiro Sancho, nem via o que eram, embora já estivesse bem perto, antes ia dizendo em altas vozes: - Non fuxades, cobardes e vis criaturas, que um só cavaleiro é este que vos acomete. Nisto se levantou um pouce de vento, e as grandes asas começaram a girar, em vista do qual, disse D. Quixote: - Ainda que movais mais braços que os do gigante Briaréu, haveis de pagar-me. E, isto dizendo, e encomendando-se de todo coração à sua senhora Dulcinéia, pedindo-lhe que em tal transe o socorresse, bem coberto da sua rodela, com a lança enristada, arremeteu a todo o trote de Rocinante e investiu contra o primeiro moinho que tinha à frente; e ao lhe acertar uma lançada na asa, empurrou-a o vento com tanta fúria que fez a lança em pedaços, levando consigo cavalo e cavaleiro, que foi rodando pelo campo muito estropiado. Acudiu Sancho Pança ao seu socorro, a todo o correr do seu asno, e ao chegar viu que não se podia mexer: tamanho fora o tombo que dera com ele Rocinante. - Valha-me Deus! - disse Sancho. - Eu não disse a vossa mercê que visse bem o que fazia, que não eram senão moinhos de vento, e só o podia ignorar quem tivesse outros na cabeça? - Cala, amigo Sancho - respondeu D. Quixote -, que as coisas da guerra mais que as outras estão sujeitas a contínua mudança: quanto mais que eu penso, e assim é verdade, que aquele sábio Frestão que me roubou o aposento e os livros tornou esses gigantes em moinhos, para me roubar a glória do seu vencimento, tal e tanta é a inimizade que me tem; mas, ao cabo do cabo, de pouco valerão as suas más artes contra a bondade da minha espada. - Que Deus faça o que puder - respondeu Sancho Pança.